
10/12/2025
Um ato de protesto extremo marcou a tarde desta quarta-feira na Câmara Municipal de Vereadores de Lages, jogando luz sobre a crise do abandono animal na cidade. Duas mulheres, sendo uma delas uma protetora local, deixaram duas caixas com 11 filhotes de cães nas dependências da Casa Legislativa.
Servidores da Câmara filmaram o abandono e confrontaram a protetora, aqui identificada apenas como B. para preservar sua privacidade. Ela respondeu estar esgotada por cuidar de mais de 30 animais diariamente sem apoio e criticou a inação dos vereadores.
O ato foi precedido por uma comunicação direta com o gabinete da vereadora Bruna Uncini. Prints de conversas de WhatsApp, que a ALPA teve acesso, confirmaram o diálogo com o assessor Ericsom:
Três dos filhotes foram acolhidos por servidores da Câmara, e os demais direcionados para a COBEA.
O vídeo do abandono ganhou força nas redes sociais, e o ato foi erroneamente vinculado à PL nº 0026/2025, proposta pela vereadora Bruna Uncini, que trata da quantidade de animais em residências.
Em pronunciamento exclusivo para a ALPA, Bruna Uncini demonstrou frustração com o ocorrido e o cenário político:
"O maior problema que nós enfrentamos é o abandono, são as pessoas que seguem abandonando os animais, que sobrecarregam os protetores e enchem as ruas de animais e acaba que a gente não dá conta. É um trabalho a longo prazo, não tem solução imediata [...]. Ano que vem terá a Coordenação de Bem-Estar Animal, que é uma conquista para a cidade [...] as castrações foram intensificadas, está sendo feito um trabalho de conscientização nas escolas, a COBEA tem trabalhado para promover a adoção dos animais [...] mas não será tão rápido como o esperado, os animais não vão desaparecer das ruas [...]."
O ato de B. foi compreendido por suas colegas como o ápice do esgotamento, dada a sobrecarga e a falta de resultados efetivos das políticas públicas.
Apesar do aumento nas cirurgias do COBEA (3.741 castrações, 235% a mais em 2025), o esforço é minado pela irresponsabilidade de tutores e pela falta de fiscalização.
O custo do abandono, portanto, é pago pelas protetoras e pela ineficácia da lei em punir e coibir o descarte de animais.
A Lei Municipal nº 313/2008 e a Lei Federal Sansão (2 a 5 anos de reclusão) proíbem e punem o abandono.
O cerne da crise, contudo, é a falha na aplicação rigorosa dessas leis. A existência de pontos de descarte conhecidos e denunciados ao MP, a alta taxa de irresponsabilidade de tutores e a falta de fiscalização proativa fazem com que o ônus do controle populacional caia sobre um pequeno grupo de protetoras, culminando em atos extremos de denúncia como o ocorrido na Câmara.